sábado, 24 de outubro de 2009

O outro



As ideias têm me visitado frequentemente, mas preciso oferecer a elas pequenos mimos, como aperitivos (são insaciáveis), docinhos (amam chocolate), drinks (são sofisticadas) para que não me deixem tão cedo. A todo momento surge uma inspiração e quando percebo já escapou. Para isso, um amigo sugeriu um livro de ideias. Assim, inverto o jogo e eu é quem posso visitá-las a qualquer momento. Simples e brilhante! Enquanto o caderninho não fica pronto, porque tem que ser inspirador e criativo, tento capturar minhas visitantes através da memória. Vou travando esta batalha mental, memorizando-as para mantê-las vivas na caixola, e tem dado certo. Prova disto é este post e a reflexão que vem agora.


Estava eu hoje almoçando no shopping quando um homem perguntou se podia sentar-se ali, pois, àquela hora, achar um lugar era ganhar na Mega-Sena. Balancei a cabeça positivamente e continuei alimentando a Clotilde, minha amiga solitária. Mesmo tentando prestar atenção na comida, não pude ficar indiferente ao sujeito. E aí começou o post.



Fazendo um paralelo com o conceito de sociedade de massa, em que as pessoas estão com os laços sociais cada vez mais afrouxados, embora o mundo virtual nos iluda do contrário, percebi o quanto me incomodava a presença daquela pessoa ali ao meu lado. Aí vocês vão dizer: nossa, que antissocial! Que antipática! Justamente o oposto, pois adoro as pessoas, a convivência com elas, suas diferenças como está escrito aí ao lado do no blog. Mas, porém, contudo, todavia, era como se o fato de ele estar lá mexesse comigo, invadisse uma suposta privacidade, a individualidade. Falo isso, porque ao sentar com um, teoricamente, estranho, estava dividindo o ato de fazer a refeição, quebrando um pouco a ideia de individualidade, entrando na coletividade, na comunhão. Mesmo assim, o homem-massa, menor unidade da sociedade de massa, falou mais alto, porque meu companheiro de almoço também não sabia o que fazer. Olhava, assim como eu, hipnotizado para uma tela em que notícias eram anunciadas (Elemídia), mexia no celular, inquieto, procurando não fazer contato visual comigo e, ao se atrapalhar na hora de comer, parecia um menino que tinha feito uma travessura. Ficou encabulado e eu, indiferente. Esse momento só se quebrou quando, como manda a boa educação, pedi licença e me retirei, pois Clotilde já estava satisfeita. Foi um dos únicos momentos em que o contato visual se fez.


Mas por que isso acontece? Perguntava eu aos meus botões. Sociedade de massa. Tão perto, tão longe. É como o filme Crash - No limite (recomendo!) fala, as pessoas se esbarram nas ruas para ter mais contato com o outro, já que estão tão entretidas consigo mesmas que se esquecem do vizinho, da pessoa ali ao lado. No entanto, nem tudo está perdido, pois ao sair do shopping e esperar o sinal abrir uma moça veio falar comigo, espontaneamente, e disse: Nossa, até o sinal abrir vamos ter torrado (Rio 40º)! Então respondi: Pois é! Espero que amanhã faça sol para poder ir à praia! E ela: Sim! É verdade! E o sinal abriu, assim como a esperança de que aquele vire este.










4 comentários:

  1. muito bom! é eu tb penso assim, a gnete tem q tentar mudar essa sociedade de massa.... teve um dia na facult q passei por uma menina chorando e a cena mexeu comigo, e tive q ir la falar com ela, tentar fazer alguma coisa...

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  2. Aeeeee .. muito bom o texto!!! A começar por "alimentando a Clotilde, minha amiga solitária" rsrsr ..

    É .. o livro que eu to lendo ensina que devemos buscar a auto suficiência .. Mas acho que não há como esquecer do outro e se bastar. Definitivamente acho impossível.

    Ps: e o cara, era gato ? rsrsrs

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  3. Flavitcha!!!!
    Aee, é nós no blog némmm!
    uhahuahuahuauha
    Agora é sério. Adorei seu blog e sempre virei aqui comentar. Esse texto está ótimo, acho que ja te disse isso, você está quase uma tia Clarice.
    Depois passa lá no meu!
    Um beijãoooo!
    Nanda.

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  4. Que interessante, né... Vejo o Twitter, por exemplo. Nos sentimos interessados em fazer parte de uma conversa, do cotidiano de alguém, mas quando trazemos isso para nossa vida, ainda temos um pouco (na verdade muito) incomodo em ter pessoas muito "próximas" da gente. Eu sou um. Parece que nosso espaço físico na vida real é maior do que nosso corpo, já no virtual nada disso existe!

    Quero te agradecer por ter colocado um link em seu blog para o Prezados Colaboradores, que agora se chama Comunicação.etc. E gostei muito deste seu trabalho aqui, já está em meu feed =)

    Bjs, LB

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